Como tudo já foi dito sobre dietas, decidi que não me vou lançar nessa luta. Parece-me que há uma ideia que tem de passar sobre todas as outras:
A boa alimentação, é aquela que é boa para o corpo e para a alma.
Se seguir uma dieta que o faz sofrer, mentalmente ou fisicamente, está no caminho errado. O seu objectivo deve de ser o de se sentir bem no fim de cada refeição.
Se se sentir congestionado, vagamente aborrecido, com um começo de uma dor de cabeça e uma vontade forte de dormir, provavelmente não comeu como devia. Por outro lado, se sentir fome e estiver de mau humor, isso não é bom sinal…
Se estiver com fome uma hora após a refeição, isso também é um problema. Normalmente, devia de estar a fazer a digestão, e o fígado a trabalhar. Se comeu correctamente, não há razão para o seu organismo estar de novo a pedir comer.
Em suma, como todos os prazeres, o objectivo à mesa deverá de ser a satisfação a longo prazo (uma hora…). Escolha alimentos que o satisfaçam e de que gosta, sem obstruir o sistema digestivo.
E não é assim tão difícil.
O seu corpo sabe naturalmente o que é melhor para ele
Normalmente não deve ter de pensar nisso. O nosso corpo sabe naturalmente o que é bom para ele. Sabe, que se as batatas fritas com paprika, nos dão vontade de comer quando temos fome… comê-las só pode dar uma sensação desagradável, de se ter comido muito, mas não o suficiente.
E é o mesmo com todos os alimentos que nos fazem “quebrar”: barras de chocolate em yogurtes de fruta, passando pelos biscoitos, os sumos de fruta, os pistaches, as pizzas, o McDonald, a sensação de “prazer” quando o alimento entra na boca, é imediatamente substituído por uma sensação de náusea ou “nó no estomago” , quando engolimos.
Estas mensagens não podiam ser mais claras, de que o nosso corpo não está a gostar do tão dito “prazer”, que estes alimentos nos dão.
O problema da alimentação pode ser, pelo menos em teoria, ser facilmente resolvido: basta procurar e escolher os alimentos correctos, assim que começa a comer, para se sentir o melhor possível no fim da refeição. Mas os nossos reflexos alimentares “naturais” foram profundamente distorcidos e não podemos confiar neles.
Cuidado com os cereais
Durante milhões de anos, os seres humanos comeram frutas, frutos, raízes, algumas plantas, nozes, caça, peixe, marisco. Este é o regime alimentar para o qual fomos feitos.
Com a invenção da Agricultura no neolítico (há 10.000 anos; portanto, recentemente!), o homem começou a consumir grandes quantidades de carboidratos, presentes nos cereais.
No entanto, a digestão transforma rapidamente os carboidratos em glicose, uma substancia mal tolerada pelo nosso organismo. A glicose pode mesmo tornar-se um veneno mortal para o organismo, assim que ultrapasse as doses no sangue!
Felizmente, temos o pâncreas que injecta insulina no nosso organismo, quando sente o nível da glicose a aumentar. A insulina abre “portas” nas nossas células, que começam a absorver a glicose, até o nível voltar ao normal no nosso sangue.
Mas a introdução de alimentos ricos em amido na nossa alimentação a partir da Renascença (feijão e batatas da América no século XVIII), a Revolução Agrícola e a industrialização progressiva da Agricultura provocaram uma reviravolta nos nossos hábitos alimentares, com um grande aumento do consumo de carboidratos.
O consumo de amido puro (sobre a forma de batatas ou de cereais refinados) aumentou até representar 60% de calorias por dia. No entanto, convém saber que o amido da batata, por exemplo, começa a transformar-se em açúcar puro, logo que entra em contacto com a saliva, a tal ponto que o nível de glicose no sangue aumenta mais rapidamente, coma batatas ou coma cubos de açúcar.
A propaganda anti-gordura provoca uma catástrofe
A catástrofe tem acelerado a partir doa anos 60, assim que o governo (provavelmente habilmente orientada pelos lobby agrícolas) com grandes campanhas para dissuadir as pessoas de comerem gorduras, e para se virarem mais para os cereais.
A quebra no consumo de gorduras entre as populações ocidentais, e o aumento do consumo de carboidratos, desencadeou a epidemia que conhecemos de sobrepeso, obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e cancro.
Encontramo-nos na situação absurda, de uma grande parte da população, consumir poucas gorduras, começar a sofrer de fome (a gordura é boa para uma sensação de saciedade), e para isso, impuseram uma dieta que, cada vez é mais rica em carboidratos, a qual os conduz a ganhar peso todos os dias!
E não falo das depressões, e nos dramas pessoais que este mal gerou, além de “doenças da civilização” citadas acima.
Falta de gordura faz engordar!!
Assisti recentemente a uma conferência de Isabelle Robard, sobre alimentação e a epidemia da obesidade nos países industrializados, onde ela apresentou curvas absolutamente paralelas, entre o aumento do consumo de carboidratos e o aumento de obesidade, nos últimos quarenta anos nos Estados Unidos.
Segundo Selon Walter Willet, presidente do departamento de nutrição da escola de saúde pública de Harvard, uma das grandes universidades americanas, citou:
“A comunidade científica tem contribuído para a epidemia da obesidade, ao fazer passar a mensagem de apenas contar as calorias das gorduras, e isso, levou muitos a acreditar que se podia consumir uma grande quantidade de cereais.”
Ainda mais impressionante, Isabelle Robard mostrou-nos um gráfico, de acordo com um estudo realizado nos Estados Unidos, que mostra a relação inversamente proporcional entre o consumo de gorduras e a obesidade: quanto menos gorduras comem, mais engordam! Porque tem fome todos os dias, e que as gorduras desempenham um papel importante no metabolismo.
A invasão de produtos com “baixo teor de gordura” (mas muitas vezes cheio de produtos químicos) faz com que os Americanos sofram com fome, e por isso, comam mais cereais, açúcar e bebidas açucaradas, com as consequências desastrosas para o açúcar no sangue. O pâncreas não chega a injectar toda a insulina necessária, e as células do corpo desenvolvem resistência à insulina. Daí a epidemia de diabetes e das doenças que se seguem.
O resultado é que milhões de mães dão aos seus filhos, arroz tufado e outros corn flakes ou Spécial K em boa consciência, no entanto, em termos nutricionais, é o mesmo que lhes dar cubos de açúcar para comer.
Eu poderia continuar a falar sobre este assunto, e dizer por exemplo, que nenhum estudo científico permite estabelecer qualquer ligação entre a quantidade de gordura consumida e o colesterol no sangue (pelo menos três quartos do nosso colesterol são produzidos pelo nosso organismo), ou ao facto de pôr o seu organismo “em fome” impondo dietas de baixas calorias, que ele transforma em modo “economia”. O corpo acumula gordura, como previsão, dos tempos difíceis que aí vêm.
Duas regras simples para escolher os alimentos
Difícil, portanto, de se fiar no seu bom senso, e ao seu instincto, para escolher bem os seus alimentos de hoje. De acordo com o bioquímico Thierry Souccar, o nosso especialista em nutrição, uma boa maneira de escolher os alimentos, é comer aqueles que têm:
- Uma densidade calórica fraca: quer isto dizer, um número de calorias reduzido por grama. Por outras palavras, prefere uvas a passas.
- Um baixo índice de glicemia : índice glicémico é a velocidade com que um carboidrato se transforma em glicémia durante a digestão. Quanto mais elevado é o índice glicémico, mais aumenta a taxa de glucose no sangue, e portanto mais difícil de digerir pelo pâncreas.
Estes dois elementos são interessantes, porque permitem compreender, porque é que as pipocas, que são tão leves, são de facto maus para a saúde. É que o número de calorias por grama das pipocas é muito elevado, especialmente se forem “revestidos com um toque de caramelo”. Daí o mal-estar que sentimos quando comemos um monte de pipocas.
O índice de glicémia (IG), que é um pouco mais difícil de manusear, e é por isto que Isabelle Robard, preconiza que os fabricantes de produtos alimentares, sejam obrigados a indicar no rótulo dos seus produtos.
É difícil de imaginar, com efeito, quando não pensamos na questão, que os alimentos ricos em amido, têm um índice glicémico elevado, dito de outro modo, eles transformam-se depressa em açúcar no nosso organismo.
Os alimentos com IG elevado (>70) são: batatas, pão, pizzas, arroz branco, arroz tufado, biscoitos, barras de cereais, cereais do pequeno-almoço, pipocas, chocolates.
Os alimentos com baixo IG são a maior parte das frutas e legumes, alguns cereais integrais, arroz basmati, alguns biscoitos, massas, nozes, avelãs, carne e peixe.
Os melhores alimentos, que devem representar a base da nossa alimentação, são os legumes, sobretudo os legumes coloridos, que têm uma fraca densidade calórica e um índice glicémico baixo.
As dietas com um baixo IG, são as que permitem emagrecer, e, sobretudo, de manter o peso.
Um exemplo típico de uma dieta de densidade calórica, e índice de glicémia baixo, é a dieta de Okinawa. Thierry Souccar escreveu um livro sobre este assunto, com o Dr. Jean-Paul Curtay, intitulado “Programa de longa vida”.
À sua saúde!
Texto original: Jean-Marc Dupuis
Tradução e adaptação: Eugénia Gomes
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